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Pedro Castelo: A voz do Rally de Portugal

Pedro Castelo é mais do que uma voz da rádio ou um rosto da televisão. É uma memória viva do Rally de Portugal e um exemplo raro de paixão, profissionalismo e energia.
30 maio 2025

Pedro Castelo é mais do que uma voz da rádio ou um rosto da televisão. É uma memória viva do Rally de Portugal e um exemplo raro de paixão, profissionalismo e energia. Aos 79 anos, continua a ser presença firme e inspiradora num percurso que atravessa seis décadas e mais de 50 edições do “melhor rali do mundo”.

Há vozes que não se esmorecem com o tempo. São feitas de saber, de carisma e de memória viva. São vozes que moldam o modo como sentimos os acontecimentos. Pedro Castelo é, e será sempre, uma dessas vozes. Uma figura maior da comunicação em Portugal, um apaixonado pela rádio, um artesão da palavra e um verdadeiro embaixador do Rally de Portugal, prova que acompanha desde 1968. “Esse ano foi o segundo Rally de Portugal”, recorda com um detalhe impressionante. “Depois não fiz os três anos seguintes por causa da tropa, e falhei mais dois ou três por motivos de saúde, incluindo em 2001, quando fui operado ao coração. No total, devo ter falhado seis ou sete edições. Não mais do que isso.”

Mais de 50 edições, outras tantas histórias para contar

Mas Pedro Castelo não é apenas o homem que esteve em mais de 50 edições do Rally de Portugal, é aquele que as traduziu, que as transmitiu, que lhes deu vida fora e dentro dos troços. Seja através da Rádio Clube Português, da Renascença, da RDP ou até da RTP, foi sempre uma presença habitual. Sempre com um microfone, um caderno e uma paixão inabalável por contar o que via e descobria nos meandros do melhor rali do mundo.

“Fazer rádio nos ralis há umas décadas era uma verdadeira aventura. Os técnicos penduravam, literalmente, linhas de telefone em pinheiros. Dávamos indicações como “estrada nacional 214, km 37.2, junto à árvore grande” e eles punham lá a linha. Depois, era ligar o telefone de manivela e começar a reportar. Mais tarde usávamos o telefone do café mais próximo ou da senhora da aldeia que tinha linha fixa. Hoje é tudo muito mais fácil. Mas perdeu-se um certo romantismo.”

Momentos marcantes? Muitos. Mas há um que ficou gravado na sua memória

“1986, o ano do trágico acidente em Sintra. Estávamos no Estoril Sol quando os pilotos decidiram boicotar o Rally, após o trágico acidente na Lagoa Azul. Lembro-me que um jornalista belga tentou gravar a reunião com um gravador escondido debaixo de um guardanapo. Quando os pilotos descobriram, devolveram-lhe a cassete... completamente apagada. Foi um momento tenso, estranho e histórico. E marcou definitivamente o Rally.”

A forma como Pedro fala é, em si mesmo, uma aula de comunicação: pausadamente, com ênfase na altura certa, muito emoção à mistura e a confiança no discurso de quem acumula décadas de experiência. Talvez venha daí o seu enorme talento não apenas como repórter, mas como apresentador e até como responsável de comunicação de marcas automóveis. Foi o primeiro locutor do programa Em Órbita, uma referência na rádio portuguesa, e deu vida a programas como Enquanto For Bom Dia e A 23ª Hora. Mais tarde, na RDP, assumiu a direção de programas, sempre com um olhar atento sobre as novas gerações.

Mas nunca perdeu o contacto com o terreno, com o público e com o país real

Pedro conhece o Rally de Portugal como poucos. E conhece a fundo o país que o acolhe em cada edição. “Hoje o público tem mais acesso à informação. Há vídeos, há entrevistas, há imagens em tempo real. Mas há menos gente na estrada. Antes, milhares e milhares vinham acampar, fazer piqueniques, vibrar ao vivo. Agora é diferente. Talvez mais cómodo, mas menos intenso.”

Ao longo da conversa, é impossível não notar a lucidez com que analisa a evolução da prova. Fala das dificuldades de financiamento após o fim dos apoios governamentais, do peso crescente das exigências da FIA e da pressão sobre os organizadores. Mas também reconhece os avanços tecnológicos e a capacidade de adaptação do evento, que mantém um lugar cativo entre os melhores do mundo.

E se lhe pedirmos para descrever o Rally de Portugal em três palavras?

“É difícil... Mas talvez diga: competição, emoção, memória. Porque os rallys são a melhor parte da competição automóvel. Desculpem lá, são mais de três palavras…”

Aos 79 anos, Pedro Castelo não dá sinais de abrandar. Diz que gostava de fazer “mais uma edição, aos 80”, mas confessa entre risos que é capaz de voltar aos 81, “nem que seja só para vos chatear”. A energia está lá. A vontade também. E enquanto houver microfones e motores, é difícil imaginar um Rally de Portugal sem o Pedro Castelo.

Mais do que um jornalista, um comunicador nato

Pedro é um contador de histórias, um construtor de pontes entre épocas, um elo entre os bastidores e o grande público. Uma figura humana rara, generosa, que sempre valorizou o trabalho de equipa e a partilha do conhecimento. Um verdadeiro mestre das relações-públicas, tanto no sentido técnico do termo como no mais humano, o de saber estar com todos, ouvir todos, fazer com que todos se sintam parte da história.

Esta entrevista efetuada em pleno Rally de Portugal de 2025 não pretende resumir a sua vida, porque isso seria impossível. Mas antes deixar um registo. Como quem fixa um marco na beira do caminho, para que todos os que venham depois saibam por onde passou o mestre Pedro Castelo.

Obrigado, Pedro. Pela voz, pela memória, pela inspiração. O público e o Rally de Portugal são mais ricos por tua causa...

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