O Mundial de ralis terminou de forma emocionante. Foi preciso esperar pela última classificativa do ano para conhecer o campeão do mundo de 2025: Sébastien Ogier. Thierry Neuville ganhou o Rali da Arábia Saudita e passou o testemunho ao francês, que subiu ao trono pela nona vez na sua carreira.
Foi uma prova verdadeiramente alucinante, com os pilotos da Toyota Elfyn Evans, Sébastien Ogier e Kalle Rovanperä a lutarem pelo título mundial até ao derradeiro troço. Só que os furos foram baralhando a estratégia dos pilotos, que até ao último quilómetro “andaram com o credo na boca”.
Mãrtins Sesks (Ford Puma Rally1) foi o piloto que melhor se adaptou às caraterísticas do novo rali com 17 classificativas em terra – uma espécie de Dakar em ponto pequeno – e acelerava para o primeiro triunfo no WRC, só que, na penúltima classificativa, teve dois furos! e entregou a vitória a Thierry Neuville (Hyundai i20N Rally1). Foi o segundo triunfo da marca sul-coreana em 2025, o que impediu a campeã do mundo Toyota de vencer a 13ª prova e conseguir um novo recorde de triunfos numa única temporada.
Apesar de ter falhado três provas por opção, Sébastien Ogier (Toyota GR Yaris Rally1) ainda foi a tempo de conquistar, aos 41 anos, o nono título mundial de pilotos, igualando o grande rival Sébastien Loeb. No seu palmarés constam 203 ralis do Mundial, 67 vitórias (33,1%) e 807 classificativas ganhas com três marcas diferentes: VW, Ford e Toyota. A felicidade de Sébastien Ogier contrastou com as lágrimas de despedida do Mundial de ralis de Kalle Rovanperä, vai correr na Super Fórmula japonesa em 2026, e de Ott Tänak, que decidiu fazer uma pausa na carreira.
Os três pilotos que lutavam pelo título foram surpreendidos no decorrer da primeira etapa pelos jovens “leões” Mãrtins Sesks, Sami Pajari e Adrien Fourmaux. A liderança do rali mudou várias vezes ao longo do dia, Adrien Fourmaux foi o único que não furou e terminou a etapa com 6 s de vantagem sobre Sami Pajari e 6,9 s sobre Mãrtins Sesks. Os candidatos ao título tiveram uma etapa caótica e foram relegados para lugares secundários: Ogier era 7º e virtual campeão do mundo, Rovanperä ocupava a 8ª posição e Evans estava logo atrás. Para quem lutava para ser campeão do mundo, não era o melhor cartão de visita. Atribuíram os segundos perdidos ao facto de serem os primeiros a passar e terem de limpar a estrada das pedras e da areia solta.
A segunda etapa com seis troços (134 km) era a mais longa e difícil e os mais rápidos do dia anterior continuaram a realizar os melhores tempos. O facto de ser um rali totalmente novo acabou por nivelar os andamentos. Desta vez, a experiência e o maior conhecimento das estradas não foi determinante e a nova geração mostrou a sua rapidez. Foi uma etapa brutal para os pneus Hankook, que levou ao desespero os pilotos da frente, todos eles furaram e perderam posições “há pedras por todo o lado”, queixava-se Adrien Fourmaux. No final da etapa, o francês tinha 2,4 s de vantagem sobre Mãrtins Sesks e 5,8 s para Thierry Neuville (Hyundai i20 N Rally1), mas o piloto foi penalizado um minuto por ter entrado no controlo horário final antes do tempo e desceu para a quarta posição. Dessa forma, Mãrtins Sesks ascendeu ao primeiro lugar, com 3,4 s de avanço sobre Thierry Neuville e 41,5 s para Takamoto Katsuta.
A luta pelo título de pilotos desenrolava-se mais atrás e foi emocionante. Sébastien Ogier e Kalle Rovanperä foram sempre mais rápidos do que Elfyn Evans. O francês tinha uma vantagem apreciável sobre os adversários, mas um furo na última classificativa fê-lo perder tempo e ser ultrapassado por Kalle Rovanperä por escassos 0.2 s. Apesar desse contratempo, o francês continuava na frente do campeonato com um ponto de vantagem sobre Evans.
O vencedor do rali e o campeão do mundo de 2025 iriam decidir-se nas três classificativas (65 km) e nos pontos bónus da última etapa. Os furos voltaram a fazer estragos, o mais penalizado foi Mãrtins Sesks que furou duas vezes na mesma classificativa! e perdeu o primeiro lugar para Thierry Neuville. O piloto não merecia tamanha desfeita, pois liderou durante muitas classificativas e estava perto de conseguir a primeira vitória no WRC. O campeão do mundo de 2024 foi o que teve menos problemas, leia-se furos, e ganhou o rali “terminar com uma vitória inesperada é obviamente uma sensação fantástica. A próxima temporada chega rapidamente e temos muito trabalho pela frente para estarmos melhor preparados em 2026. É um desafio difícil, mas vamos continuar a lutar”, afirmou o belga. O seu colega de equipa Adrien Fourmaux terminou em segundo e Sébastien Ogier completou o pódio.
Elfyn Evans deu tudo na Power Stage para recuperar pontos a Sébastien Ogier, mas o francês respondeu com o segundo melhor tempo e arrumou a questão do título. Kalle Rovanperä estava fora dessa luta, pois perdeu bastante tempo com mais um furo. Sébastien Ogier fez um final de época incrível, venceu seis ralis e terminou dez das 11 provas no pódio. “Que temporada, que luta com o Elfyn! Só existe um grande campeão quando se tem um grande adversário, e ele foi muito competitivo, levou-nos ao limite até à última classificativa. Parabéns à Toyota Gazoo Racing. Foi uma temporada muito bem-sucedida. Estou orgulhoso e muito feliz por fazer parte desta família”, disse o francês, que adiantou: “Nunca pensei que chegaria ao nono título depois de ter decidido passar mais tempo com a família. Isto só foi possível graças a esta fantástica equipa e a ter encontrado um jovem navegador, Vincent, que fez um trabalho incrível, trazendo uma energia positiva e fazendo-me sentir mais jovem”, reconheceu Sébastien Ogier, que já disse que vai estar presente em 10 das 14 provas do Mundial de 2026
Elfyn Evans fez uma temporada incrivelmente consistente, até esta prova tinha terminado todos os ralis entre os seis primeiros. Na segunda metade da temporada conseguiu quatro segundos lugares consecutivos e passou para a frente do campeonato. Andou a fundo na última classificativa para recuperar pontos a Sébastien Ogier, mas não foi suficiente “acho que fizemos o que podíamos este fim de semana. O furo na sexta-feira não ajudou, mas foi assim que as coisas funcionaram e todos tiveram os seus problemas. O Seb e o Vincent foram incríveis durante todo o ano e merecem este título. Quero sempre mais, mas fico satisfeito com esta temporada. A equipa foi fantástica e esteve sempre a apoiar-nos e a incentivar-nos. Obrigado a todos pelo trabalho incrível”, disse o galês, que é vice-campeão do mundo pelo quinto ano!
Kalle Rovanperä obteve três vitórias este ano e partia para o seu último rali com a obrigação de fazer a pontuação máxima e esperar por azares alheios. Afinal, foi ele o mais azarado com os furos e ficou em terceiro no Mundial. “Parabéns ao Seb pelo título, ele esteve muito bem este ano. Não foi o rali que queria, mas sabia que ia ser difícil. Ainda assim, a sensação é boa. Claro que é triste deixar os ralis e as pessoas que fizeram parte da minha vida, mas também estou muito orgulhoso com o que alcancei. Um agradecimento especial à Toyota por estes anos fantásticos”, fez questão de dizer.
Oliver Solberg (Toyota GR Yaris Rally2) voltou a dominar o WRC2 e terminou em 10º lugar da geral.
Classificação final
1º Thierry Neuville/Martin Wydaegue (Hyundai i20 N Rally1), com 3h.21.17,3
2º Adrien Fourmaux/Alexandre Coria (Hyundai i20 N Rally1), a 54,7 s
3º Sébastien Ogier/Vincent Landais (Toyota GR Yaris Rally1), a 1m.03,3
4º Sami Pajari/Marko Salminen (Toyota GR Yaris Rally1), a 1m.51,7
5º Takamoto Katsuta/Aaron Johnston (Toyota GR Yaris Rally1), a 1m.59,9
6º Elfyn Evans/Scott Martin (Toyota GR Yaris Rally1), a 3m.43,9
7º Kalle Rovanperä/Jonne Halttunen (Toyota GR Yaris Rally1), a 5m.31,5
8º Grégoire Munster/Louis Louka (Ford Puma Rally1), a 7m.07,2
9º Joshua MCerlean/Eoin Treacy (Ford Puma Rally1), a 8m.30,5
10º Oliver Solberg/Elliot Edmondson (Toyoya GR Yaris Rally2), a 10m.00,6 (1º WRC2)
Classificação final de Pilotos
1º Sébastien Ogier (Toyota) – 293 pontos
2º Elfyn Evans (Toyota) – 289
3º Kalle Rovanperä (Toyota) – 256
4º Ott Tänak (Hyundai) – 217
5º Thierry Neuville (Hyundai) – 194
Classificação final de Construtores
1º Toyota Gazoo Racing WRT – 735 pontos
2º Hyundai World Rally Team – 511
3º M-Sport Ford World Rally Team – 205
4º Toyota Gazoo Racing WRT2 – 158