No coração pulsante do Rally de Portugal 2025, em plena Exponor, a Toyota Gazoo Racing Caetano Portugal promoveu um momento especialmente marcante e carregado de simbolismo. O espaço da equipa, dinamizado pela Sports & You, encheu-se de amigos de longa data, admiradores e jornalistas para celebrar os 75 anos de vida de Jorge Ortigão, um dos nomes maiores dos ralis portugueses e dos mais destacados pilotos nacionais da marca japonesa nos anos 80.
Com a presença dos seus dois filhos e rodeado de um público comovido, Jorge Ortigão foi surpreendido com a presença de uma réplica fiel do Toyota Corolla GT Coupé que conduziu com brilhantismo no Rally de Portugal de 1986. Nessa edição, alcançou o 4.º lugar da classificação geral, o melhor registo de sempre de um piloto português na prova, e venceu a competitiva classe A6, com Pedro Perez como navegador, aos comandos de um carro inscrito pela Salvador Caetano / Mobil.
Mas a história de Ortigão com a Toyota começou muito antes. Em 1980, depois de ficar sem carro para competir, aceitou o desafio de alinhar no Rally de Portugal com um modesto Toyota Starlet 1000, num gesto de coragem e paixão que hoje é contado como uma lenda:
“O Starlet era quase mais uma ideia do que um verdadeiro carro de ralis, mas eu acreditava no seu potencial. O Dr. Jorge Soares, Diretor Comercial da Salvador Caetano na altura, confiou em mim e disse: “Leve o carro, mas nós não sabemos de nada, nem temos nada a ver com isso...” No fim da Volta a Portugal, só sete carros terminaram. Nós fomos sextos. Liguei-lhe logo e deu para perceber no seu tom de voz o alívio que sentiu. Foi um momento inesquecível.”
A partir desse ponto, iniciou-se uma ligação sólida com a Salvador Caetano que durou até 1988. Guiou um Starlet 1300 (o célebre “Starlet amarelo”) com o qual superou todas as expectativas no Rally de Portugal de 1981, terminando em 14.º da geral e vencendo a classe. Mais tarde, já com os Toyota Corolla GT Coupé, em várias configurações e evoluções, deixou marca nos troços portugueses e nas classificações, graças à sua consistência, técnica e conhecimento profundo do terreno.
A carreira de Jorge Ortigão começou em 1973, com a conquista do título de Iniciados do Regional Norte. Ao longo de 16 participações no Rally de Portugal, alinhou ao volante de máquinas tão diversas quanto míticas: o Datsun 1200 GX, o Opel 1904 SR da Arbo, os referidos Starlet e Corolla, sempre com uma abordagem determinada e consistentes. Destacou-se ainda com vitórias noutras provas de relevo, como a Volta à Ilha de São Miguel nos Açores, e foi mesmo retratado numa das histórias do universo de Michel Vaillant, um feito muito raro entre os pilotos lusos.
Na cerimónia, visivelmente emocionado, confessou:
“As saudades são muitas. Esta homenagem foi uma verdadeira surpresa. Sabia que vinha cá, mas não com este espírito tão bonito. Fiquei logo surpreso com o Corolla lá fora, mas não imaginava a moldura humana que aqui se reuniu para esta iniciativa. Estou aqui com uma enorme gratidão e uma boa dose de humildade. Obrigado”
Mais do que uma justa celebração de um percurso ímpar, este tributo simboliza também a ligação entre a história da Toyota nos ralis e o presente vitorioso da marca no Mundial. Aos 75 anos, Jorge Ortigão continua a ser um nome que se escreve com respeito e admiração. Um piloto eterno, como bem disseram alguns dos presentes, e um dos rostos que ajudou a transformar este nosso Rally de Portugal num verdadeiro património nacional do desporto motorizado.